O Bacacheri, apesar de não ter vocação industrial, abrigou uma fábrica de grande porte que funcionou por muitas décadas e marcou o dia a dia do bairro. Idealizado pelo empresário Nicolau Pedro, o Moinho Curitibano S.A. foi construído entre 1949 e 1951 em um amplo terreno de 13.635 m² que por pouco não ocupa uma quadra inteira da região.
O lançamento da pedra fundamental da Indústria ocorreu em um domingo de julho de 1949. Estiveram presentes na cerimônia o Secretário Estadual da Agricultura, Firman Neto, o Prefeito Lineu Ferreira do Amaral, vereadores, empresários, representantes de bancos, além de jornalistas e outros convidados.
As obras se iniciaram pela construção do edifício principal, de quatro pavimentos. Curiosamente, circula a lenda urbana de que o fundador, Nicolau Pedro, foi pessoalmente ao Rio de Janeiro para convencer a Aeronáutica a autorizar sua construção. Isto porque o prédio se posiciona na rota dos pequenos aviões que aterrissam no aeroporto do Bacacheri.
O maquinário do Moinho, da marca Škoda, foi importado da extinta Tchecoslováquia e tinha capacidade para processar 25.000 quilos diários. Os equipamentos foram embarcados no vapor Alcor e trazidos do porto de Hamburgo na Alemanha, para o porto de São Francisco do Sul em Santa Catarina.
Em fevereiro de 1951, o escritório provisório do Moinho Curitibano pôde ser transferido do centro para a nova sede no Bacacheri. Já o moderno Moinho seria inaugurado pouco mais de um mês depois, às 11 horas do dia 29 de março de 1951. Após a solenidade, um churrasco foi servido aos convidados no Clube Duque de Caxias, vizinho à fábrica.
Depois de apenas dois anos em funcionamento, em 1953, foram inaugurados, no mesmo local, um segundo moinho e também uma fábrica de tecidos, cujo projeto foi realizado por Antônio Piazzeta. É de 1953, também, o projeto para construção da fábrica de massas alimentícias, elaborado pelo engenheiro civil Enzo Julio Poletto, da City Construtora Comercial.
Estima-se que o conjunto fabril chegou a empregar 300 funcionários. Além do intenso fluxo de trabalhadores e veículos, um dos aspectos que mais marcou os moradores do Bacacheri foi o apito da fábrica, que tocava sem falta às 6 horas da manhã.
As informações acerca do fim das atividades do Moinho Curitibano são desencontradas. Notícias indicam que o encerramento ocorreu entre o ano de 1999 e 2003. Nos anos seguintes, verifica-se que a Indústria buscou resolver pendências trabalhistas e tributárias que impediam a venda do imóvel.
Em 2011, uma proposta de venda foi apresentada aos associados do Clube Duque de Caxias, que deliberaram contra a compra de parte do terreno. Anos mais tarde, em setembro de 2018, o Moinho foi vendido a uma sociedade anônima por, aproximadamente, R$ 11.650.000,00. No terreno, pretende-se construir um centro empresarial.
Meses antes da venda, uma equipe de pedreiros retirou os telhados, janelas e outros acabamentos da maior parte dos prédios da fábrica. Possivelmente, com o intuito de desestimular as frequentes invasões que ocorriam no local.
Ao comparar as fotos atuais com aquelas tiradas em abril de 2011 por Washington Takeuchi, é notório o quanto o edifício principal se deteriorou na última década. Além disso, os silos metálicos que tanto caracterizavam o Moinho já não existem mais.
O que ainda resiste, mesmo que desgastada, é a inscrição com o nome “Moinho Curitibano S.A.” no topo da antiga fábrica moageira.
FICHA TÉCNICA
- Nome: Moinho Curitibano S.A.
- Ano de construção: 1949 ~ 1951
- Endereço: Rua Nicarágua, 1451, Bacacheri
- Engenheiro: Antônio Piazzeta, responsável pelo projeto da fábrica de tecidos; Enzo Julio Poletto, responsável pela fábrica de massas
- Tipologia: industrial
- Endereço: R. Nicarágua, 1451 – Bacacheri, Curitiba – PR, 82515-260
FONTES
Cartório do 2º Registro de Imóveis de Curitiba.
Secretaria Municipal do Urbanismo – Prefeitura Municipal de Curitiba.
Um novo grande moinho de trigo em Curitiba. O Dia, Curitiba, 20 de julho de 1949. Edição 8161, p. 8. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB).
http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=092932&pagfis=66504
Trabalhando para a nossa independência: lançada a pedra fundamental do Moinho Curitibano. O Dia, Curitiba, 29 de julho de 1949. Edição 8169, p. 3. (BN/HDB).
http://memoria.bn.br/docreader/092932/66577
Comunicado do Moinho Curitibano S.A. Diário da Tarde, Curitiba, 5 de janeiro de 1950. Edição 16912, p. 6. (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/800074/77607
Comunicado do Moinho Curitibano S.A. Diário da Tarde, Curitiba, 2 de março de 1951. Edição 17262, p. 6. (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/800074/79656
Comunicado do Moinho Curitibano S.A. O Dia, Curitiba, 28 de março de 1951. Edição 8664, p. 8. (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/092932/71760
Inauguração de fábrica de tecidos e de novo moinho de trigo. Diário da Tarde, Curitiba, 27 de março de 1953. Edição 17883, p. 6. (BN/HDB).
http://memoria.bn.br/docreader/800074/83081
TAKEUCHI, Washington. Circulando por Curitiba: O Moinho Curitibano. Curitiba, 27 de abril de 2011.
http://www.circulandoporcuritiba.com.br/2011/04/o-moinho-curitibano.html
BALDINI. Não ao Moinho Curitibano. Curitiba, junho de 2011.
https://lordescoces.files.wordpress.com/2011/06/47_9.pdf
GALANI, Luan. A história por trás do moinho que acordava o Bacacheri. Gazeta do Povo, Curitiba, 25 de outubro de 2016.
ULBRICH, Giselle. Motel-mocó: antigo Moinho Curitibano, no Bacacheri está completamente abandonado. Apesar da placa de “vende” na frente, investidores já estariam negociando novo rumo para o moinho. Tribuna, Curitiba, 26 de abril de 2018.