RESIDENCIAL TOWERS E EDIFÍCIO LIVING SMART
Surpreendente, estranha, bizarra, curiosa, desajeitada. Esses foram alguns dos adjetivos encontrados ao pesquisar sobre a passagem em “túnel” que corta dois edifícios na Travessa da Lapa no centro de Curitiba.
Em que pese o gosto pessoal de cada um, não há dúvida em relação a peculiaridade da solução urbanística ali adotada. Tanto é que, em um primeiro momento, não é fácil se lembrar de um caso parecido.
Esse inusitado cenário urbano desperta curiosidade em relação aos dois prédios que são “atravessados” pela via.
Pois bem, a história começa durante os anos 80. Naquela década, iniciaram-se as primeiras desapropriações na Travessa da Lapa para que, posteriormente, a rua se tornasse uma canaleta de uso exclusivo do ônibus biarticulado.
A Travessa era aberta ao tráfego somente entre a avenida Sete de Setembro e a avenida Visconde de Guarapuava. Conforme artigo publicado no Correio de Notícias em 5 de julho de 1992, a reforma da via contemplava o asfaltamento de toda sua extensão até a esquina com a Marechal Deodoro.
Além de receber os ônibus biarticulados, a criação do novo corredor exclusivo também tinha o propósito de incorporar as linhas de ônibus comuns que antes passavam pela Rua Barão do Rio Branco e prejudicavam os imóveis históricos nela situados.
No início dos anos noventa, a Adobe Administração de Obras e Empreendimentos, construtora fundada pelo professor de arquitetura Léo Grossman, desenvolveu um projeto a ser realizado em terreno no Centro, com frente para Rua Pedro Ivo, e um dos lados para a Travessa da Lapa. A ideia era construir dois blocos, sendo um comercial e outro residencial, com uma galeria de 18 lojas no térreo conectando os dois edifícios.
O consentimento para que os edifícios fossem construídos “por cima” da rua foi uma forma de compensação entre a Prefeitura e a construtora, uma vez que o alargamento da Travessa acabou suprimindo boa parte do terreno.
Após aprovação do empreendimento nos órgãos competentes, a construção do Residencial Towers teve início em 1993. Assinado pelo arquiteto Osvaldo Dombrate Filho, o Residencial que combina diferentes tons de amarelo foi entregue dois anos depois, em 1995. Com 85 metros de altura, o edifício de 28 andares conta 48 apartamentos de um dormitório e outros 48 de dois dormitórios, totalizando 96 unidades.
O outro edifício, entretanto, não chegou a ser levantado naquele período. Somente anos depois a área não construída foi comprada pela Damiani Empreendimentos Imobiliários. No local, a empresa aproveitou o desenho do projeto antigo, porém optou por transformar o edifício que seria comercial, em residencial. Essa readequação foi feita pelo arquiteto Waldeny da Silva Fiuza.
Assim surgiu o Living Smart Compact Residences, construído entre 2014 e 2017. O prédio manteve os 21 andares anteriormente previstos e converteu os 204 escritórios comerciais em studios compactos.
Hoje, aqueles que caminham naquela parte da Travessa da Lapa, necessariamente passam pela galeria comercial entre os dois edifícios. Como se percebe pelas fotos, não há passagem de pedestres pelo outro lado da via. Na galeria, funcionam diferentes serviços como salões de beleza, escritórios de advocacia, conserto de eletrônicos, financeira, entre outros.
Conforme reportagem da Gazeta do Povo, desde 1995 os ônibus passaram a circular pela Travessa. Atualmente, o descritivo de itinerários da URBS aponta que seis linhas trafegam pelo local, dentre elas o “ligeirão” Santa Cândida/Praça do Japão.
FICHA TÉCNICA
- Nome: Residencial Towers
- Ano de construção: 1992 ~ 1995
- Arquiteto: Osvaldo Dombrate Filho
- Tipologia: Residencial com galeria comercial no térreo
- Andares: 28
- Altura: 85 m
- Endereço: Travessa da Lapa, nº 460, Centro
- Nome: Living Smart Compact Residences
- Ano de construção: 2014 ~ 2017
- Arquiteto: Waldeny da Silva Fiuza
- Tipologia: Residencial com galeria comercial no térreo
- Andares: 21
- Altura: 74,34 m
- Endereço: Rua Pedro Ivo, nº 730, Centro
FONTES
Bloqueada Travessa da Lapa. Diário do Paraná, Curitiba, 6 de janeiro de 1980. Edição 7389, p. 1. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB).
http://memoria.bn.br/docreader/761672/139877
Bloqueio. Diário da Tarde, Curitiba, 8 de janeiro de 1980. Edição 23091, p. 2. (BN/HDB).http://memoria.bn.br/docreader/800074/145222
Obras em Curitiba preparam ruas para o bonde sobre pneus. Correio de Notícias, Curitiba, 5 de julho de 1992. Edição 42, p. 15. (BN/HDB).
http://memoria.bn.br/docreader/325538_02/16469
PONIWASS, Luigi. Estação em praça central desagrada comerciantes. Gazeta do Povo, Curitiba, 5 de maio de 2006.
FERNANDES, José Carlos. Antes ou depois da Travessa da Lapa? Gazeta do Povo, Curitiba, 4 de fevereiro de 2007.
GALÃO, Fábio. Prédio é cortado por canaleta. Folha de Londrina. Curitiba, 26 de junho de 2007.
https://www.folhadelondrina.com.br/cadernos-especiais/predio-e-cortado-por-canaleta-607454.html
Editorial: sistema em xeque. Gazeta do Povo, Curitiba, 10 de janeiro de 2011.
https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/sistema-em-xeque-dx71j6ibu6p73cvg2dkczm4i6/
Conforto e bem-estar perto de tudo. Gazeta do Povo, Curitiba, 17 de maio de 2014.
Damiani Empreendimentos Imobiliários.
https://www.damiani.com.br/empreendimentos/
Dombrate Arquitetura, assessoria e planejamento.
http://dombratearquitetura.blogspot.com/2009/07/curriculum-sintese.html
Curitiba sendo Curitiba, com soluções inusitadas que solucionam, no caso do prédio, é uma atração turística, eu mesmo já fui cicerone para amigos e parentes do Brasil e do exterior que queriam conhecer e fotografar o prédio que transita linha de ônibus por dentro, e todos acham fantástico, eu, particularmente amo minha capital e tenho muito orgulho dela.